segunda-feira, 28 de julho de 2014

A Moda na República Velha

O figurino que vestia o Brasil do café com leite


Em algum lugar entre os séculos XIX e XX: crianças
mortas, antes de serem enterradas, muitas vezes
eram vestidas como pequenos soldados romanos,
para que, seguindo crenças religiosas da época, chegassem
ao céu prontas para exercer o papel de anjos
protetores. 


Quando uma família ia à praia, as mulheres usavam
saias longas e sombrinhas; os homens, calças, camisa e
chapéu. 


E ao percorrer as ruas de uma São Paulo que crescia
a todo vapor, vendedores de artigos para o lar adaptavam a
moda de Paris para um dia a dia sob o sol. Esses são apenas
três recortes de uma vasta memória que o Brasil ainda não
tirou por completo do armário.


1. Cine Pathé, no Rio, em 1918


2.  Illustração Brasileira ensina a se vestir para o teatro, em 1909


                                                                                                     3. Cinco gerações da família Souza Barros, em 1920 
 


A transição de uma vida essencialmente agrária para uma outra, que dava seus primeiros passos em direção à febre da urbanização, determina alguns dos traços desse retrato. Mas o apreço pela moda que vinha da França, e no caso dos homens também pelo estilo inglês, mais do que tudo, propagou por aqui um jeito de se vestir parecido com o de europeus, sobretudo das elites.

1. Cesteiro, no Rio, em 1875
2. Caipira acende cachimbo (1911)
3. Dupla de jornaleiros cariocas, em 1899 
4. Grupo de músicos mineiros, em 1875

Boa parte do vestuário e de modelos de reprodução foi trazida por costureiras e alfaiates estrangeiros, ou ainda por uma elite cheia de dinheiro que fazia compras em Paris. Era uma época em que o vestuário era considerado patrimônio, herdado dos avós inclusive.

Os pobres, quando aparece em fotografias da época, quase sempre estão descalços e quando usam sapatos, muitas vezes, é possível notar que aquele mesmo calçado pode aparecer em uma outra foto, nos pés de outra pessoa retratada, o que dá margem à uma conclusão: alguns artigos eram emprestados somente para que o sujeito posasse para o retrato. O mesmo acontecia com bolsas e sombrinhas.

Em algumas fotografias, é nítido, você vê os escravos num tal estado de depressão... Eles entendiam o que estava acontecendo com eles e por isso não tinham ânimo para tirar fotografias. Há registros também de negros vestidos tal quais aristocratas. As roupas, nesses casos, também eram emprestadas pelos seus senhores unicamente para que o retrato fosse feito. Mas há casos de famílias que conseguiram prosperar após a Lei Áurea (1888) e aparecem vestidas, mais tarde, em trajes sociais.

É interessante que, as roupas íntimas ou eram usadas até o desgaste completo, ou acabavam na lata do lixo. Há também, padrões de confecções que dão pistas sobre a origem de cada peça. Algumas roupas com relevo, por exemplo, indicam o uso de uma técnica desenvolvida na França. Os desenhos eram recortados em tecido, aplicados sobre a roupa e, para o acabamento, bordava-se sobre eles, resultando em texturas. Também, morria um filho, a mulher ficava de luto para o resto da vida. Isso só foi flexibilizado depois da década de 1930, quando o tempo de luto vai sendo reduzindo.

 1. Centro do Rio, em 1895
No período retratado há ainda um fato histórico que determina uma série de mudanças. Com o início da Primeira Guerra Mundial, viagens para o exterior passam a ser pouco frequentes. Minguam também as importações de tecidos, que vinham da Inglaterra e da França. Como consequência, começam a diminuir, no Brasil, o tamanho das roupas, que vão ganhando contornos mais leves. Na década de 1920 algumas mulheres, por exemplo, já passeiam pelas ruas mostrando braços e parte das pernas.


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